Depois de desfazer a Mala: Como organizar a rotina Escolar e Social da Família no Novo país.
Dicas simples e práticas para criar estabilidade e adaptação no novo país. Neste post, você vai encontrar orientações estratégicas para organizar o dia a dia escolar e social após a imigração — com foco no bem-estar e equilíbrio. Ideal para famílias que buscam mais clareza e conexão nesse novo começo.
Por Vanessa Garcia
5/30/20256 min read


Depois de desfazer a Mala: Como organizar a rotina Escolar e Social da Família no Novo País.
Um olhar honesto — e estratégico — sobre as engrenagens silenciosas da imigração com filhos.
Entre vistos, contratos e papeladas, tem uma parte da imigração que ninguém ensina — talvez porque só se aprende vivendo: refazer o cotidiano da família, do zero, onde tudo é diferente e novo.
Se você está nesse momento, este texto é para você.
1. A escolha da escola: o que ninguém te conta, mas deveria
A maioria dos pais se preocupam com o currículo, com o desempenho acadêmico, com os rankings. Compreensível. Mas quando se vive fora, há outra camada de complexidade a ser observada: como a escola acolhe uma criança que chega de outro país, com outro idioma, outra bagagem, outra cultura.
Na prática:
→ Marque visitas presenciais.
Não se baseie apenas em sites ou reputação. Caminhe pela escola, observe os murais, ouça os corredores. Se possível, leve seu filho junto. Veja como ele reage ao ambiente.
→ Descubra o que não está nos folhetos
Há suporte lingüístico efetivo?
Existe algum programa de integração para crianças estrangeiras?
Alunos que não falam o idioma local participam de tudo desde o início? Se não, onde ficam? Grupos diverisificados/heterogêneos, com faixa etárias muito diferentes?
A criança é colocada direto na rotina normal ou existe uma fase de transição?
A escola já recebeu famílias imigrantes antes? Como foi a experiência?
→ Avalie como você será incluída.
Essa escola te vê como parceira ou como espectadora? Observe com todos os sentidos, veja nas entrelinhas.
→ Dicas Extras:
Se couber no seu orçamento, visite escolas alternativas, privadas ou com foco multicultural. Às vezes, elas costumam ter programas de integração mais flexíveis.
Converse com outras mães brasileiras ou de outras nacionalidades. O boca a boca, nesse contexto, é mais valioso do que qualquer ranking. Histórias reais mostram o que não está nos sites. Isso é ouro no processo.
Avalie outras regiões, se houver essa possibilidade.
Nem sempre a escola mais próxima é a melhor opção. Em alguns casos, morar a alguns quarteirões fora de uma determinada área pode significar acesso a uma escola com estrutura mais acolhedora, foco multicultural ou suporte específico para alunos recém-chegados. Se houver flexibilidade para escolher, vale considerar um deslocamento um pouco maior em troca de uma adaptação mais humana, segura e respeitosa para seu filho.
Uma criança aprende muito mais do que está no livro. E uma escola pode ensinar conteúdos impecáveis, mas reforçar, silenciosamente, a sensação de não pertencimento.
Então, muito cuidado. Pergunte, observe, vá até a escola— e confie na sua escuta, não só racional, mas emocional, para escolher o ambiente onde seu filho possa, de fato, crescer e florescer.
2. Participe da escola do seu filho.
Estar presente na vida escolar do seu filho, mesmo com todas as limitações do início da vida fora, é uma das formas mais potentes de construir pertencimento. A escola precisa te ver, te ouvir, te reconhecer como parte da experiência educacional. Isso abre portas, dá suporte emocional e reforça o vínculo entre casa e escola.
É sobre se fazer existir no ecossistema escolar, ainda que discretamente.
Como fazer isso na prática:
→ Participe de reuniões, festas, eventos esportivos, feiras e atividades especiais – mesmo que brevemente.
Você pode não conseguir ficar a festa toda, mas passar por lá, dar um oi à professora e dar um abraço no seu filho já faz diferença.
Ainda que não entenda tudo, vá. Estar presente é mais importante do que falar fluentemente.
→ Se ofereça, quando possível, como voluntária em algo simples: ajudar em uma atividade, colaborar com alguma tarefa. Mostra interesse genuíno e aproxima.
→ Acompanhe os recados da escola com atenção. Use tradutores, peça ajuda para entender os boletins ou e-mails. Estar por dentro do que acontece mantém você conectada. Use a tecnologia a seu favor.
→ Esteja nos bastidores do cotidiano: pergunte à criança como foi o dia, com quem brincou, o que foi difícil. Isso dá pistas sobre como está sendo a experiência escolar.
Lembrete importante:
Você não precisa se encaixar num modelo ideal de “mãe participativa”.
Você só precisa encontrar o seu jeito possível de se fazer presente. E, aos poucos, esse gesto constrói pontes — com a escola, com a comunidade e com o coração do seu filho.
3. Rotina escolar – dia a dia
Saber onde deixar, como buscar, o que pode ou não levar, em que dias vestir tal roupa ou mandar um lanche diferente. Parece simples — mas para quem está em outro país, não é.
E se essa parte falha, a criança sente. Se sente deslocada, constrangida, insegura. Por isso, cuidar da logística é, na prática, cuidar do emocional também.
Aqui vão pontos essenciais que fazem diferença no dia a dia:
→ Monte um resumo da rotina escolar em um só lugar
Tenha tudo organizado:
• Horários de entrada e saída
• Dias de atividades especiais (educação física, biblioteca, música)
• Itens obrigatórios e datas importantes
• Informações de contato da escola
→ Entenda como funciona o lanche escolar
• Existem restrições?
• A escola fornece ou você deve enviar?
• Há normas sobre alimentos industrializados, nozes, açúcar?
→ Antecipe os pequenos detalhes que impactam muito
• Tem dia específico para levar livros?
• Como funcionam os recados da escola? (Agenda física? App?)
• Crianças levam roupa extra? E garrafa d’água?
Atenção:
Você não precisa acertar tudo de primeira. A logística é construída no cotidiano, com tentativas, erros e ajustes. Você consegue!
4. Crie redes de apoio
No início, pode parecer impossível se conectar. Mas um simples “oi” no portão da escola, um comentário no grupo de WhatsApp ou uma participação em um evento local podem abrir portas
➡ Dica valiosa: Procure afinidades. Um idioma em comum. Um olhar acolhedor. Uma mãe que parece tão deslocada quanto você. Uma vizinha com filhos da mesma idade. As conexões mais sólidas, muitas vezes, nascem do desconforto compartilhado.
5. Seu filho precisa de ferramentas. E a primeira é a palavra.
Você não pode controlar como o mundo vai tratá-la.
Mas pode garantir que ela tenha voz para se apresentar com confiança.
Comece com o básico: ensine frases simples no novo idioma — mas vá além. Pratique expressões como por exemplo:
“posso brincar com você?”,
“meu nome é...”,
“essa é minha comida preferida”.
Não se trata só de vocabulário. São frases que dão acesso. Que autorizam a participação, que convidam.
➡ Dica valiosa: Crie pequenas encenações em casa com situações do cotidiano. Brinque de “chegada na escola”, “hora do lanche” ou “convite para brincar”. Isso ajuda a transformar a ansiedade em familiaridade e dá segurança para ela agir quando estiver sozinha.
Porque uma criança que sabe se comunicar se sente mais segura para participar — e menos vulnerável a se calar.
Encerrando:
Organizar a logística de uma nova vida no exterior é complexo e requer atenção aos detalhes, sensibilidade para lidar com o desconhecido e uma coragem constante para seguir adiante.
O mais importante? Não se trata de controlar o caos da imigração — mas de desenhar, com confiança e afeto, o seu próprio jeito de viver nesse novo lugar. Com as ferramentas possíveis e que você tem à mão. Com os erros inevitáveis e que fazem parte do caminho. E com a força de quem carrega mais do que malas: carrega vínculos, histórias e futuros.
Você está fazendo um ótimo trabalho!
Com carinho,
Vanessa Garcia.
@institutoparental
contato@nessagarcia.com
www.nessagarcia.com
Sobre a autora:
Vanessa Garcia é Educadora Parental | Advogada | Pós-graduada em Educação Parental e Inteligência Emocional | Pós-graduada em Psicologia Jurídica.
Nascida e criada no Rio de Janeiro, Brasil, atualmente vive em Montreal, Canadá, com seu marido e filha.
Apaixonada pela subjetividade e complexidade do ser humano, pelo universo da maternidade e pelas histórias únicas que cada família traz, Vanessa dedica sua carreira a ajudar pais e mães a transformarem suas relações com amor e respeito.

