Por que sua criança se comporta pior com você — e por que isso pode ser, na verdade, um bom sinal

Cansada de se arrepender depois de gritar ou perder a paciência? Neste post, você vai entender o impacto das palavras na relação com seu filho e descobrir o que evitar, o que dizer e como agir de forma mais consciente, firme e acolhedora. Um texto para quem quer mudar, mas não tem tempo a perder com teoria demais.

Por Vanessa Garcia

5/30/20254 min read

Por que sua criança se comporta pior com você — e por que isso pode ser, na verdade, um bom sinal

Você já se perguntou por que seu filho parece “um anjo” na escola, na casa dos avós ou com outras pessoas, mas com você explode, grita, desafia ou chora por qualquer motivo?
Essa é uma das queixas mais frequentes entre pais e mães — e, ao contrário do que pode parecer, essa reação pode ser um sinal de segurança emocional, e não de fracasso na educação.

Crianças não escolhem o “pior momento” para testar seus pais. O que acontece, na maioria das vezes, é que elas guardam suas emoções ao longo do dia — e quando finalmente estão com quem lhes transmite segurança, elas soltam.
Elas desabam porque sabem que ali serão acolhidas.
O comportamento difícil, muitas vezes, é um pedido disfarçado de ajuda.

A teoria por trás: o apego seguro

De forma simplificada, a teoria do apego nos mostra que a criança desenvolve vínculos com figuras que representam proteção, conforto emocional e previsibilidade.
Com essas figuras, ela se sente à vontade para ser quem é — inclusive com sua raiva, frustração e tristeza.

Isso significa que, se seu filho “explode” com você, é porque ele confia que será amado mesmo nos seus piores momentos.
Difícil? Sim. Mas também profundamente verdadeiro.

É aí que entra um ponto delicado:

⚠️ Cuidado! Existe um equívoco comum: achar que acolher é permitir tudo.

Acolher é aceitar o que a criança sente — mas não aceitar qualquer forma de agir.
Quando confundimos afeto com permissividade, deixamos a criança à deriva.
E o que deveria ser segurança, vira insegurança.

Por isso, o apego seguro não significa ausência de limites.
Significa que os limites são sustentados com presença, firmeza e empatia.
A criança precisa saber que pode sentir tudo — mas que nem tudo pode ser feito. E quem ensina isso… é você.

📝Lembre-se:

Ser gentil não é ser permissivo.
Ser firme não é ser duro.
A educação precisa do equilíbrio entre os dois.

📌Mas, o que você pode fazer:

  1. Não leve para o lado pessoal.
    Seu filho não está “te desafiando”. Ele não está contra você — ele está tentando lidar com algo que o cérebro dele ainda não sabe processar. Ele está mostrando que precisa de ajuda para regular emoções.
    Quando você responde com raiva, alimenta o ciclo. Quando responde com calma e clareza, interrompe o padrão.

  2. Acolha sem perder os limites.
    Validar o sentimento (“Você está muito bravo agora, né? Eu entendo.”) não é o mesmo que permitir o comportamento inadequado (“Mas não posso deixar você bater.”).

  3. Ofereça contenção, não punição.
    Crianças em crise não precisam de castigo. Precisam de estrutura, conexão e calma emprestada de um adulto que esteja mais regulado que elas e que não reaja na mesma freqüência emocional.
    Segure seu filho, se precisar — sem machucar, sem gritar.
    Às vezes, conter é físico mesmo: segurar no colo, abraçar firme, tirar do ambiente. É estar presente para que ele não se machuque nem machuque os outros. Contenção é diferente de punição: você não está “castigando”, está protegendo.

  4. Preste atenção no antes.
    A birra nem sempre começa na hora da birra. Observe se seu filho está cansado, com fome, excesso de estímulos e telas. Antecipar o que pode gerar a crise é muito mais eficaz do que apagar incêndio depois.
    Crises são a ponta do iceberg — o que vem antes costuma ser mais fácil de manejar.

  5. Repare nos seus gatilhos.
    A forma como você reage ao comportamento do seu filho costuma dizer mais sobre a sua história do que sobre a dele. Observar seus próprios limites emocionais é um passo essencial para não entrar no jogo do descontrole.

  6. Cuide de você primeiro.
    Nenhuma técnica funciona se você estiver sempre no limite. Uma criança desorganizada emocionalmente somada a um adulto exausto é um campo fértil para conflitos.

Evite dizer:

  • "Você só faz isso comigo!”

  • “Na casa da sua avó você não age assim!”

  • “Você está querendo me enlouquecer.”

  • “Você está fazendo cena. Para com esse drama.”

  • “Você vai ver só quando seu pai/sua mãe chegar.”

  • “Eu faço tudo por você e é assim que você me trata?”

Essas frases não só desconsideram a razão por trás do comportamento, como também fazem a criança sentir culpa por ser quem ela é — e não é isso que você deseja transmitir.

Prefira dizer:

  • “Estou aqui com você.”

  • “Você pode estar bravo, mas não pode machucar.”

  • “Pode chorar, eu sei que está difícil.”

  • “Você pode estar com raiva, mas não pode bater.”

  • “Se precisar, estou aqui. Quando estiver pronto, a gente conversa.”

  • “Eu entendo que você queria isso. Mas agora não é possível.”

  • “Está tudo bem sentir isso. Eu também fico assim às vezes.”

  • “Não vou deixar você se machucar nem machucar ninguém.”

  • “Eu te amo mesmo quando você está bravo.”

  • “Eu sei que isso é difícil. Mas eu estou com você.”

Essas frases mostram que você está ali, mesmo no caos.
Elas validam o sentimento sem permitir o comportamento inadequado.

❤️Por fim...

Se você se viu em alguma dessas frases, não se culpe.
Isso não significa que você é uma má mãe ou um pai ausente — significa apenas que você é humano, lidando com pressões e desafios reais, muitas vezes sem ferramentas suficientes.

A mudança começa quando você enxerga o impacto das suas palavras — e decide escolher outras, mesmo cansado, mesmo sem saber exatamente como.

E se hoje você já consegue pensar antes de reagir, ou reparar depois de uma explosão, isso já é transformação em andamento.

Crianças não precisam de pais perfeitos. Mas toda criança precisa de adultos dispostos a crescer junto com ela.

Com carinho,
Vanessa Garcia.
@institutoparental
contato@nessagarcia.com
www.nessagarcia.com

Sobre a autora:

Vanessa Garcia é Educadora Parental | Advogada | Pós-graduada em Educação Parental e Inteligência Emocional | Pós-graduada em Psicologia Jurídica.
Nascida e criada no Rio de Janeiro, Brasil, atualmente vive em Montreal, Canadá, com seu marido e filha.
Apaixonada pela subjetividade e complexidade do ser humano, pelo universo da maternidade e pelas histórias únicas que cada família traz, Vanessa dedica sua carreira a ajudar pais e mães a transformarem suas relações com amor e respeito.